A) Centra-se no relacionamento entre um pescador idoso e um pescador jovem.
B) centra-se na pesca de um grande espadarte.
C) centra-se na vida de um velho pescador.
B) na vila piscatória, servindo os pescadores e as relações entre eles para caracterizar esse espaço.
C) no mar.
UMA NOVELA de 1952, DO ESCRITOR NORTE-AMERICANO, ERNEST HEMINGWAY, QUE VISITAVA MUITO CUBA E PESCAVA TAMBÉM.
Ele era um velho que pescava sozinho no
seu barco, na Corrente do Golfo. Havia oitenta e quatro dias que não apanhava
nenhum peixe. Nos primeiros quarenta, levara em sua companhia um rapaz para
auxiliá-lo.
Depois disso, os pais do rapaz,
convencidos de que o velho se tornara sala, isto é, um azarento da pior
espécie, puseram o filho a trabalhar noutro barco, que trouxera três bons
peixes em apenas uma semana. O rapaz ficava triste ao ver o velho regressar todos
os dias com a embarcação vazia e ia sempre ajudá-lo a carregar os rolos de
linha, ou o gancho e o arpão, ou ainda a vela que estava enrolada à volta do
mastro. A vela fora remendada em vários pontos com velhos sacos de farinha e,
assim enrolada, parecia a bandeira de uma derrota permanente.
O velho pescador era magro e seco, e tinha a parte posterior do pescoço
vincada de profundas rugas. As manchas escuras que os raios do sol produzem
sempre, nos mares tropicais, enchiam-lhe o rosto, estendendo-se ao longo dos
braços, e suas mãos estavam cobertas de cicatrizes fundas, causadas pela
fricção das linhas ásperas enganchadas em pesados e enormes peixes. Mas nenhuma
destas cicatrizes era recente.
Tudo o que nele existia era velho, com exceção dos olhos que eram da cor do
mar, alegres e indomáveis.
– Santiago – disse-lhe o rapaz quando desciam do banco de areia para onde o
barco fora puxado -, eu gostaria de tornar a sair consigo. Tenho ganho algum
dinheiro.
O velho ensinara o garoto a pescar e por isso ele o adorava.
– Não – respondeu-lhe o velho. – Você está num barco de sorte. Fique com
eles.
– Mas lembre-se daquela vez em que passamos mais de oitenta dias sem
apanhar coisa alguma e depois pescamos dos grandes, todos os dias, durante três
semanas.
– Lembro-me muito bem – tornou o velho. – E sei que no período de má
sorte não me abandonaste nem duvidaste de mim.
– Foi o meu pai quem me fez mudar de barco. Ainda sou um rapaz e tenho de
obedecer a ele.
– Eu sei – concordou o velho. – É natural.
– O meu pai não tem muita fé.
– Não – tornou a concordar o velho. – Mas nós temos, não é verdade?
– Sim – afirmou o rapaz. – Deixe-me oferecer-lhe uma cerveja na Esplanada,
depois levamos estas coisas para casa. Aceita?
– Por que não? – respondeu o velho. – Entre pescadores…
Sentaram-se na Esplanada e alguns pescadores começaram a fazer troça do
velho, mas ele não se zangou. Outros, os de mais idade, olharam para ele e
sentiram-se tristes. Mas não o demonstraram e continuaram conversando, sem lhe
dar importância, sobre as correntes e as profundidades a que tinham descido as
suas linhas, sobre o bom tempo e as coisas que tinham visto ou feito durante o
dia. Os pescadores que nesse dia haviam sido bem-sucedidos tinham chegado e
limpado os espadartes, levando-os estendidos ao comprido sobre duas tábuas –
dois homens sustentavam a ponta de cada tábua – para o armazém de peixes, onde
ficavam à espera de que o transporte frigorífico os levasse para o mercado em
Havana.
Aqueles que tinham apanhado tubarões carregavam-nos para a fábrica do outro
lado da baía, onde eram içados e limpos, os fígados extraídos, as barbatanas
cortadas, as peles raspadas e a carne cortada em tiras para salgar.
Quando o vento soprava do nascente, a baía era invadida pelo cheiro que
vinha da fábrica; hoje, porém, mal se notava o cheiro, pois o vento soprara
para o norte e depois amainara rapidamente. Por esse motivo, a Esplanada estava
muito agradável e batida de sol.
– Santiago – começou o rapaz.
– Que é? – perguntou o velho. Tinha o copo na mão e pensava nas suas
aventuras de muitos anos atrás.
– Posso sair com o barco para apanhar sardinhas para ti amanhã?
– Não, vá jogar basebol. Eu ainda sei remar e o Rogério pode atirar as
redes.
– Mas eu gostaria de ir. Já que não posso ir pescar contigo, queria ajudar de
algum jeito.
– Pagaste-me uma cerveja – replicou o velho. – Agora já és um homem.
– Que idade eu tinha quando me levaste no barco pela primeira vez?
(...)
https://historiasdeamoremorte.wordpress.com/2016/01/05/o-velho-e-o-mar-excerto-ernest-hemingway/